domingo, 26 de setembro de 2010

Belonging

Estou em Toronto, aproveitando um layover de 3 dias. Para quem gosta é maravilhoso, mas para mim é como qualquer outro layover. Não me empolgo mais com layovers como antes, para mim qualquer lugar está bom desde que o café da manhã do hotel valha a pena e a cama seja confortável. Meh, a mais desanimada de todas..

Mas eu tenho que comentar duas coisas positivas que aconteceram nesse vôo.

1. Uma familia de paquistaneses, a mulher, marido e duas meninas, viajando na primeira classe. Lá pelo finalzinho do vôo, comecei a conversar com a esposa, a Sabahat, e conversamos por muito tempo sobre amenidades, até que eu comentei que estava para casar com um paquistanês. Quando eu falei isso, ela abriu um sorriso enorme e disse: "Ah, mas porque você não falou isso antes?", e a partir desse momento ficamos melhores amigas! Ela me fez uma lista de todas as qualidades do marido paquistanês, disse que estava feliz da vida com o marido dela, falou sobre os três filhos (um deles estudando MBA em Londtres, ó que chique!), e no final me deu o telefone dela de Islamabad, pediu meu telefone para me ligar quando fosse a Dubai, pediu para eu chamá-la para o meu casamento, e ainda quis tirar uma foto comigo!
Eu fiquei muito feliz, pois quem me conhece sabe que o fato de eu não conhecer a familia do futuro-marido (e consequentemente não saber como serei aceita por eles) me assusta bastante, e como ela ficou feliz de me conhecer e me desejar toda a felicidade do mundo significou muito para mim. Pode ser que eu nunca mais veja a Sabahat, mas eu certamente não vou esquecer que por um momento eu fui muito bem aceita por uma paquistanesa tão querida.

2. Já se tornou rotina: tomando café da manhã sozinha no hotel, eu sempre chamo a atenção de alguém que trabalha no restaurante.Já fiquei amiga do Chawduri em Londres, agora conheci o Asaf aqui em Toronto.  (Ambos são casados, tem filhos, sempre falam com muito orgulho da familia, que fique bem claro..). Os dois são muçulmanos que trabalham no hotel e ficam fascinados em saber que uma doida, brasileira, vinda de Dubai, comissária da Emirates, é muçulmana - e veja só, ainda usa o véu! Dessa vez o Asaf veio como quem não quer nada, perguntou se eu era muçulmana, e depois do primeiro Assalam Alaikum já ficou meu amigo. Conversou sobre o Islam, me recomendou alguns livros e alguns documentários, me deu boas-vindas ao Islam e fez com que eu me sentisse bem recebida aqui em Toronto.

Bom, se Toronto não estava no topo da minha lista de vôos preferidos, agora está! Obrigada Sabahat e Asaf por me receberem tão bem, seja no avião, em Islamabad ou em Toronto.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Borboletando em casa

Entre folgas e sick days (ops!), estou a quase uma semana sem voar. E estou achando isso muito curioso, já que o marido e a Camila estão em treinamento, em horário comercial, todos esses dias, ou seja, eles saem de manhã cedinho e voltam pra casa no final da tarde. Estou me sentindo a rainha do lar. E sabe que não está tão ruim?
Acordar cedo (sem ser por obrigação!!), tomar um café fresquinho, ler um livro bom, ver bobagens na internet, assistir um filme, "esperar o marido", fazer uma comidinha gostosa e ficar no sofá conversando até dar a hora de dormir.. hmm, isos é muito bom! Sem contar o fato de poder arrumar o cabelo, colocar uma roupa confortável e se arrumar toda só para mim mesma.. acho que até que eu me acostumaria com isso.



***

Eu me conheço. Essa lua-de-mel com a vida de dona de casa dura no máximo uma semana. Daqui a pouqunho já estarei me coçando para voar de novo!! Toronto 3 dias, estou chegando!!!

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

A cartomante

Durante minhas férias no Brasil, enquanto procurava por alguns documentos que ainda estavam na casa dos meus pais, achei alguns papéis meus, bem pessoais, que estavam escondidos em meio aos comprovantes de eleição, recibos de faculdade e de FGTS.
Entre eles, alguns me chamaram a atenção, começando por uma agenda antiga, acho que de 2003, que começava com a fatídica lista de "Resoluções de ano novo". 'Não eram bem resoluções, estava mais para lista de desejos. E eu ri muito com tudo aquilo. "Pesar menos de 58kg" (eu estava com bem mais do que isso"; "Tirar minha carta de motorista" (7 anos depois, ainda não aconteceu!!"), "Entrar pra academia e começar a malhar".. entre outras banalidades.
Uma outra lista que me chamou a atenção foi uma que eu escrevi depois de consultar uma cartomante, no início de 2006, quando eu já estava querendo me tornar comissária. Eu lembro que fui em duas cartomantes no mesmo mês, ambas recomendadíssimas por sempre acertar tudo. Uma delas morava em uma casa muito simples, e a outra, mais velha, morava em uma das maiores e mais bonitas casas que eu já visitei. Ambas em áreas bem distintas de Santo André. Mas voltando à lista.. não lembro qual das visitas rendeu a lista que eu tenho hoje, mas as "previsões", se é que posso chamá-las assim, foram bem contraditórias. A maioria delas nunca se concretizou, algumas são tão óbvias que mais parecem conselhos ( "esse moço que você está namorando não presta; cuidado para não engravidar; ouça SEMPRE a sua mãe, pois ela sabe o que é melhor para você"), e algumas hoje em dia me fazem rir, tamanha a ingenuidade de quem perguntou.

Eu parei de acreditar em cartomantes, videntes e afins logo depois dessas visitas, já que algumas das coisas dadas como certas jamais aconteceram, ou melhor dizendo, aconteceu o oposto. Minha vinda para Dubai (e tudo que aconteceu depois) não foi prevista por nenhuma carta, e olha que eu vi para Dubai menos de 6 meses depois das "consultas"!!
Costumo brincar com as pessoas dizendo que sou "ilegível", não dá para saber o que vai acontecer comigo.
Prefiro acreditar que o que está para acontecer não pode ser previsto por ninguém, só resta a mim descobrir o meu futuro.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Duvidas, duvidas duvidas

Toda vez que venho para o Brasil minha vida fica de ponta cabeça. 
Dessa vez, estou com uma baita crise existencial, não estou conseguindo curtir minha estada com a família.
Todo mundo doente, cansado, e isso me faz pensar: o que é a "vida real" É a minha vida de ar-condicionado em Dubai, na minha bolha protetora, onde nada me afeta?
É a vida da minha mãe, trabalhando e estudando como louca para gastar o salário todo em remédio, e não conseguir aproveitar nenhum final de semana por estar sempre mal (dor no maxilar, pedra nos rins, ou simplesmente cansaço?)
É a vida dos milhões de paquistaneses que perderam tudo o que tinham? 

O que eu devo ambicionar na vida, um casamento com um cara que eu gosto muito, mas que não tem a mesma visão de futuro que eu? 
Ou quem sabe batalhar para subir na carreira, ganhar muito dinheiro e fazer os 3 Cs - casa, carro, carreira - sozinha, e depois ver se ainda dá tempo de achar o príncipe encantado? 
(as duas opções acima são totalmente incompatíveis..)

Estou bem confusa. Meu Ramadan está sendo um fracasso, não estou jejuando nem usando hijab - por mais chocante que isso pareça. Não quero ser a diferente aqui no Brasil, isso me incomoda muito. Prefiro passar despercebida na multidão. Não me sinto menos muçulmana por não estar seguindo o Ramadan, de maneira alguma. Prefiro me abster de tudo - orações, hijab, jejum - a fazer isso sem realmente me involver, só por fazer.
Essa semana estou pensando seriamente em voltar pra Dubai e passar o resto das minhas férias na minha casa, na minha realidade, onde eu posso ir e voltar para onde quiser sem ter que dar satisfações, sem ter que perguntar, sem cobranças. Onde todos os dias é final de semana, e eu não preciso me preocupar com ninguém além de mim mesma. Sei que estou sendo bem egoísta, e é com um imenso desconforto que confesso isso, mas não gosto de fingir que está tudo bem.Sei que meus pais já passaram por alguns bocados comigo quando eu era criança, e entendo que chega uma hora que os filhos tem que retribuir os cuidados, mas ainda não estou pronta para isso.

Espero que Allah entenda minha crise, e me guie pelo caminho correto. Amém.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Iftar a bordo

Ontem eu tive que quebrar o jejum a bordo.. ainda bem que foi em um vôo bem apropriado, um Jeddah! Não tive a sopinha querida de todo dia, mas em compensação a Iftar box da Emirates é uma coisa de louco, eu só consegui comer metade, de tão recheada que ela veio, e dei a outra metade pro cleaner do avião (que com certeza estava jejuando também).

Mesmo sendo esse meu quarto Ramadan, ainda acho curioso o fato de eu ter que explicar para pelo menos três pessoas em cada vôo o porquê de eu ter me tornado muçulmana. Não tenho problemas em responder a pergunta que TODOS fazem - "Mas é por causa do seu marido/ namorado?" - e nem em tirar dúvidas que as pessoas tenham sobre o Islam, desde que sejam feitas de maneira respeitosa e não haja nenhum pré-julgamento. O que me incomoda de verdade é o fato de algumas pessoas não perceberem que se trata de algo tão pessoal, que talvez eu não queira me explicar todas as vezes. Acho invasivo, desrespeitoso até.. Mas enfim, no final do dia eu percebo que até sou mais respeitada entre os meus colegas depois que eles descobrem que sou muçulmana.

+++

Mas voltando ao assinto principal - o Iftar -, hoje foi a maravilhosa sopa de pacotinho Knorr de entrada, seguida por arroz 7 cereais, bacalhau cozido no estilo tailandês, salada de moyashi, e de sobremesa uma salada de frutas super brasileira, com banana, mamão, laranja, e regada com Vimto (a groselha daqui).

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5 dias para o Brasil! Malas feitas, passagem na mão, só faltam os últimos detalhes. Descobri que o aniversário da minha prima é um dia depois do Eid, e provavelmente eu estarei no Brasil na festinha dela. Quantos anos ela vai fazer? 7, 8, 9? Não sei! Mas não tem problema, Barbie está aí pra isso..

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Tantas coisas acontecendo no mundo..

Chuvas no Paquistão, o país com milhões de desabrigados e o presidente visitando a Europa..

A menina de 14 anos que foi presa em Abu Dhabi por sexo com o motorista do ônibus escolar..

O plano de fazer uma mesquita no Ground Zero (onde ficava o World Trade Center, em Nova Iorque)..

Iraniana condenada a morte por apedrejamento por adultério..

Comissário de vôo da JetBlue em seu dia de fúria...

Eu fico cada vez mais perplexa com as coisas que acontecem no mundo. Não sei se me aprofundo e tento entender o que está acontecendo, ou desisto, já que tem coisas na vida que não fazem o menor sentido.

Segundo dia de Ramadan.

Ainda estou tentando me acostumar com o jejum.. O corpo sofre, a cabeça dói, o estômago ronca, mas eu nem me preocupo pois sei que em poucos dias eu já estarei adaptada a tudo isso. Afinal, já é o meu quarto Ramadan!
Depois de muitas horas em jejum, eu percebo que meu estômago fica bem pequenininho, o que significa que comer tudo de uma vez na hora do iftar não é uma boa idéia.. na verdade, é garantia de uma bela indigestão! Por isso, eu gosto de comer algo leve na hora de quebrar o jejum (algumas tâmaras, um copo de leite, um pouco de água) e só depois jantar.

Ontem meu iftar foi:
- sopa de brócoli com queijo (para "forrar" o estômago, literamente!)
- "Huevos rancheros" , arroz integral e espinafre cozido no vapor.

O cardápio de hoje foi diferente:
- sopa de feijão branco
- moussaka
- salada de alface com tomate

Amanhã provavelmente irei em algum restaurante, já que finalmente vou conhecer a Gori. :)